Queda brusca em contágio na Índia intriga cientistas - DIÁRIO PATOENSE

Queda brusca em contágio na Índia intriga cientistas


Quando a pandemia de coronavírus se espalhou pela Índia, houve temor de que a doença arruinaria o frágil sistema de saúde do segundo país mais populoso do mundo. As infecções aumentaram durante meses em patamares que davam a sensação de que a Índia poderia ultrapassar os EUA como a nação com o maior número de casos. Tudo começou a mudar nos últimos quatro meses do ano passado e especialistas ainda buscam uma explicação. 
 
Hoje o país reporta por volta de 11 mil novos casos diários, ante os 100 mil relatados durante alguns dias de setembro de 2020. Alguns especialistas dizem que país pode ter alcançado a imunidade de rebanho. Outros afirmam que os indianos têm alguma proteção preexistente contra o vírus.

O que é certo até agora é que não se trata de um recuo no número de testes, que continua uniforme desde dezembro. O governo indiano atribuiu em parte a redução de notificações ao uso de máscara, que se tornou obrigatório em público, e às multas pesadas impostas por algumas cidades.

Determinar o que está por trás do fenômeno pode ajudar as autoridades a controlar ainda mais o vírus - a Índia registrou 11 milhões de casos e mais de 155 mil mortes. "Se não soubermos o motivo, você pode estar inconscientemente fazendo coisas que podem levar a um novo surto", disse Shahid Jameel, infectologista que estuda vírus na Universidade Ashoka, na Índia.

A pressão sobre os hospitais também diminuiu nas últimas semanas, em mais uma indicação de que a disseminação do vírus está diminuindo. Quando os casos registrados ultrapassaram 9 milhões, em novembro, os números oficiais mostraram que quase 90% das UTIs em Nova Délhi estavam cheias. Ultimamente, só 16% desses leitos estão ocupados.

Imunidade de rebanho. Esse sucesso não pode ser atribuído à imunização, pois a Índia só começou a administrar as vacinas em janeiro. À medida que mais pessoas forem vacinadas, as perspectivas devem parecer ainda melhores, embora os especialistas também estejam preocupados com as variantes identificadas em muitos países que parecem ser mais contagiosas e tornar alguns imunizantes menos eficazes.

Entre as possíveis explicações para a queda nas infecções está a imunidade de rebanho que algumas grandes regiões do país teriam atingido. Isso ocorre quando um número significativo de pessoas desenvolve resistência ao vírus, ao adoecer ou ser vacinado. "A partir daí, a propagação do vírus começa a diminuir", explica Vineeta Bal, que estuda o sistema imunológico no Instituto Nacional de Imunologia da Índia.

Novas pesquisas sugerem que as pessoas que ficaram doentes com uma forma do vírus podem ser infectadas novamente com uma nova versão. Bal, por exemplo, apontou uma pesquisa recente feita no Brasil, em Manaus, que estimou que mais de 75% das pessoas tinham desenvolvido anticorpos para o vírus em outubro - antes que os casos aumentassem novamente em janeiro. "Não acho que alguém tenha a resposta final."

Na Índia, uma triagem nacional de anticorpos feita por agências de saúde estimou que cerca de 270 milhões, ou um em cada cinco indianos, foram infectados pelo vírus antes do início da vacinação - o que é muito abaixo da taxa de 70% ou mais que os especialistas dizem ser o limite para o coronavírus. "Uma grande proporção da população permanece vulnerável", disse Balram Bhargava, que chefia o principal órgão de pesquisa médica da Índia, o Conselho Indiano de Pesquisa Médica.

Outro levantamento ofereceu outro dado que pode explicar por que as infecções na Índia estão diminuindo. A sondagem mostrou que mais pessoas foram infectadas nas cidades do que nos vilarejos, e o vírus estaria se movendo mais lentamente pelo interior rural.

"As áreas rurais têm menor densidade de aglomeração, as pessoas trabalham mais em espaços abertos e as casas são muito mais ventiladas", disse Srinath Reddy, presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia.

Uma possibilidade adicional é que muitos indianos estejam expostos a uma variedade de doenças ao longo de suas vidas - cólera, febre tifoide e tuberculose, por exemplo, são prevalentes - e teriam preparado o corpo para montar uma resposta imunológica inicial mais forte a um novo vírus.

"Se o vírus da covid pode ser controlado no nariz e na garganta, antes de atingir os pulmões, ele não se torna tão letal. A imunidade inata atua nesse nível, tentando reduzir a infecção viral e impedir que ela chegue aos pulmões", disse Jameel, da Ashoka University.

Os especialistas estão considerando se as variantes podem estar impulsionando um aumento nos casos no Estado de Kerala, no sul do país, que anteriormente era considerado um modelo para o combater ao vírus. Kerala agora responde por quase metade dos casos de covid-19 da Índia.

Como as razões por trás do sucesso da Índia não são claras, os especialistas temem que as pessoas baixem a guarda. Grande parte dos indianos já voltaram à vida normal. Em muitas cidades, os mercados estão lotados, assim como estradas e restaurantes.

"Com a redução dos números, sinto que o pior da covid já passou", disse M. B. Ravikumar, arquiteto que foi hospitalizado no ano passado e se recuperou. "Talvez ainda não", afirmou Jishnu Das, economista da Universidade Georgetown, que aconselha o Estado de Bengala Ocidental sobre como lidar com a pandemia. "Não sabemos se isso vai voltar depois de três ou quatro meses", alertou. Do ASSOCIATED PRESS
 
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Queda brusca em contágio na Índia intriga cientistas Queda brusca em contágio na Índia intriga cientistas Reviewed by Redação on 16.2.21 Rating: 5

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